Caverna Mágica

Constantemente me perguntam sobre o que me motivou a aprender harpa céltica. Tal pergunta é interessante na medida em que a escolha de um instrumento musical parece indicar um pouco a personalidade do músico. É bem verdade que essa relação entre instrumento musical e personalidade não é tão evidente e tampouco absoluta, mas podemos encontrá-la. Alguns terapeutas que lidam com a música afirmam que é o instrumento musical que te escolhe, não o contrário. Penso que existe sim algo inconsciente que te aproxima deste ou daquele instrumento musical, essa escolha não seria uma decisão totalmente racional. Diante de vários instrumentos musicais que dispomos para ser o veículo de expressão das nossas ideias musicais, por que escolhemos apenas alguns, às vezes, apenas um? A harpa e, principalmente, a harpa céltica, não é um instrumento da nossa tradição musical, da nossa cultura, portanto, a curiosidade de muitas pessoas sobre o meu desejo em aprender e estudar esse instrumento é legítima, pois a harpa apresenta certa singularidade e peculiaridade. Sempre estive envolvido com o universo musical, na minha infância e na adolescência toquei trompete, depois aprendi violão e guitarra (autodidata), toquei esses instrumentos, profissionalmente, durante vários anos.

Capa do disco Caverna Magica

Mas, no ano de 1981, chegou até mim uma fita k7 (lembram-se dela?) com as músicas do disco “Caverna Mágica”, do harpista suíço Andreas Vollenweider. Este disco, com músicas simples, arranjos intimistas, porém com profundidade poética, repleto de texturas sonoras, foi decisivo para dar um novo encaminhamento à minha concepção musical. A partir desse contato inicial, os sons da harpa começaram a fazer parte das minhas paisagens sonoras, da minha estética musical. O contato com o instrumento veio somente muitos anos após conhecer a música de Vollenweider, porém os timbres utilizados pelo harpista, a sua música programática (obra inspirada ou motivada por idéia não-musical) e a concepção minimalista do CD “Caverna Mágica … under the tree – in the cave…”, permaneceram no meu imaginário, atuando em meu psiquismo durante muito tempo até chegar o momento no qual aprender esse instrumento tornou-se uma necessidade, essencial para a construção do meu ser.