Há muitas narrativas mitológicas sobre a harpa, sobre as suas origens e o seu poder de transformar o homem (o seu psiquismo e o seu caráter) e a physis (o mundo da natureza). O fato é que os sons produzidos pela oscilação de cordas dedilhadas estimulou a imaginação dos homens, desde épocas imemoriais, para criar histórias sobre os poderes da harpa, da lira e sobre as qualidades pessoais de quem se aventurava a dominar esses instrumentos musicais. A história e os mitos ainda nos mostram que os bardos de todas as épocas foram capazes de caminhar entre dois mundos: o mundo ordinário e o extraordinário.

Na mitologia grega, as musas  inspiravam os poetas, filósofos, historiadores e tocadores de lira e aulos (um tipo de flauta). A habilidade para tocar a lira, por exemplo, era uma dádiva da musa Erato, a deusa era quem proporcionava tal estado de criatividade ao ser humano. Mas, para além desse possível presente das divindades aos humanos – o dom de dedilhar a harpa e a lira – verificamos que muitos inventores e cientistas se envolveram com tais instrumentos musicais. Por exemplo, Leonardo da Vinci cantava e tocava lira, e Benjamin Franklin tocava harpa. Será que esses homens foram auxiliados em suas genialidades pela lira e pela harpa? É dificil responder a essa pergunta, mas com certeza tal prática não os prejudicou.

Também é interessante notar que muitos harpistas eram cegos, como o poeta grego Homero e o compositor irlandês, também poeta, Turlogh O’Carolan (1670-1738 d.C). Ainda com a mitologia grega, o bardo Thamirys (neto de Apolo) quando derrotado ao desafiar as musas em um concurso de habilidade musical foi punido com a cegueira, por sua arrogância e pelo ato insolente. Verificamos também relatos de harpistas cegos no Egito antigo e no século 18 nos países pan-célticos. O que este fato, a cegueira dos harpistas, indica? Qual o significado desses mitos envolvendo a harpa? Para qual direção esses mitos apontam?